segunda-feira, abril 23, 2007

O velho do jornal

...e hoje já não estava mais lá. Dia desses mesmo estava na TV, pedindo uma bicicleta.

Era idoso e vendia jornais (que ironia!) para comprar os remédios. O meio de transporte? A bicicleta que havia sido roubada.

Transitava por entre os carros, mas sempre atento. Bastava uma buzinada e pronto, saindo um jornalzinho, quentinho...

O engraçado é que ele sempre me olhava, como se fosse dizer algo.

Vai ver queria apenas me oferecer um jornal...

sexta-feira, abril 06, 2007

TV

...o chiado da TV
Era quase meia-noite quando escutou a porta se abrindo. Pelo reflexo, viu, era ela. O perfume também denunciava.
A cúmplice.
Era assim, todas as noites. Uma visita especial. 5min (as vezes menos) e já iam as vias de fato.
-Meu Deus, acho que to viciado! porra!

O chiado da TV
Mas a noite passava, e vinha a manhã. Trabalho, trabalho e mais trabalho.
-Chefe filho da mãe!

O chiado da TV
E vinha, novamente, a noite. Com ela:
A cúmplice.
-Baby, hoje que um pouco de whisky, e um pouco da pura!
5min de conversa. Era tudo que precisava para explicar o que andava rolando em sua vida.

O chiado da TV
E a manhã, acompanhada, como sempre, pelo chefe filho da mãe!

O chiado da TV
Era ela. Percebeu pelo reflexo e pelo perfume.
Vias de fato, mas antes, um pouco se whisky e da pura, baby!

O chiado da TV
Chefe filho da mãe, vêm a noite (e as vias de fato), amanhece, anoitece.
-Preciso de 5min pra te contar tudo que rola na minha vida.

quinta-feira, abril 05, 2007

Artista

...canvas, canvas e canvas. Bad Trip pscicológica baby. E eu lá tenho culpa de ser um artesão frustrado da Pop art.

Hoje a noite, sem falta, passo lá na sua casa. Você será minha Monalisa. Isso mesmo: Mo-na-li-sa. Vai ter de posar nua. Nú artístico.

Por falar nisso, já ouviu falar de beijo técnico? pois é. Arte é técnica.

Tudo bem. Eu sei, eu sei. As vezes sou meio pretensioso.

Mas no fundo acho que sou um técnico. Isso! A partir de hoje não serei mais artista, serei um técnico.

quarta-feira, abril 04, 2007

A moça do bairro

Passo a passo, reverberando na rua vazia. Atravessava, de calçada em calçada, a cidade, já tarde da noite. Incansável, perguntava-se:

-Que diabos estou fazendo aqui?

Ouvia (ou não), vindo de algum prédio, o tilintar embalado pelo tempo de um Mensageiro dos Ventos.

-Será que algum tarado me persegue. Não é bom, para uma moça como eu, entregar-se à ventura e infortúnios.

Apressar o passo já não mais adiantava. Viu, do lado oposto à ruela, a silhueta encorpada de uma figura masculina.

-Merda! merda!

...e ninguém para socorrê-la.

-Pai nosso, que estais no céu...

Vinha rápido, resoluto, e quando o poste banhava-lhe a fronte com luz, percebia sua inexpressividade.

-Esses são os piores, porque não tem como saber se querem nos foder, ou nos cumprimentar.

A respiração ofegante, sudorese excessiva. Tentava disfarçar. Impossível, já estava a poucos metros, e se sentia um pressa fácil. Um cordeiro pronto para o sacrifício.

Mas ai recebeu um olhar tímido, provinciano.

-Ufa!

Respirou aliviada. Não fora dessa vez. Se safara dos predadores.

Ainda bem.

domingo, abril 01, 2007

O ascensorista

Grande merda!!!Já chegará a casa dos 40 e não conseguia pensar em uma ”qualificação” melhor ou mais abrangente para a sua existência. Já fora tudo na vida. Estudante, vagabundo, puto.

Acabou optando por se tornar ascensorista.

Por incrível que pareça existem pessoas que passam o dia todo subindo e descendo andares e escutando as mesmas músicas.

Mas inconformado, simplesmente matou...

Aconteceu que seu vizinho era do tipo garanhão. Ficava horas agachado no passeio, com aquele short ridículo, sem camisa, fumando um baseado, e contando como havia metido nas garotinhas do bairro.
-A Joana? Bem, peguei mesmo zé. Deixa eu te falar cara (soltava aquela fumaça fedorenta), ela tem a manha, faz de tudo, e bem viu?
– Mônica? Puta que o pariu, essa ai é a melhor...
E o vizinho ia assim, divagando sobre historietas cretinas.
Mas eis que o puro sangue evoca uma conhecida. Trouxe à conversa o nome de uma prima distante. Disse que tinha pego ela no mato da escola. Bem na horta.

Até brincou dizendo algo como pepino ou cenoura.

Pagou para ver. Foi até a prima e tirou satisfação. Era tudo verdade. A menina só negou a história dos vegetais. Isso já era mais que suficiente.
Então ele passou dias confabulando. Subiu e desceu milhares de vezes, sempre olhando para o chão. Sempre escutando aquela maldita música.
Conhecia bem quem as figurinhas que entravam no elevador. Prédio residencial. Zona pobre da cidade. Putas, traficantes, senhoras de idade, corretores de imóvel, enfim, tinha de tudo.
Esperou, esperou e um dos sujeitos mais mal encarados apareceu.
-Ai cara, sabe como é né, tem um vizinho meu dando em cima da...
-Te passo um 38. Você me da uma grana pro café, morreu assunto. Mas tem que ficar calado, senão você é que desce, tá escutando?
-Traz amanhã!!!

Arranjar a arma não foi difícil, foda mesmo é arranjar coragem.

Passou mais alguns pares de dias matutando. Tinha de ter um plano. Infalível. Olhou de longe a casa. Ficou observando o filho da mãe tomar café, preparar a carne de sol pendurada no teto. Limpar a merda do cachorro. As vezes até pensava que vivia uma vida melhor. Piedade? Que nada!
Pensou, penou, ponderou. Decidiu! Tinha de ser à noite. Assim que ele descesse do ônibus.

Naquele dia, as figuras que adentravam no elevador viram um substituto. Licença de um dia. Coisa rápida. Amanhã ele tá de volta.

Já era quase madrugada quando o ascensorista avistou o ônibus vermelho. Correu para atrás de uma caçamba de lixo. O vizinho vinha cheio de onda. Saltitante, mão no bolso, mascando fumo e pesando em sacanagem.

Bum!!!

-Filho da puta, toma essa. Hahahah!!!
Passou de um homem que subia e descia andares à um paranóico qualquer. No começo ouviu alguns comentários.
-Foi um assalto – dizia um vizinho.
-Vingança – especulava uma vizinha.
-Isso é tráfico – arriscava um terceiro.

Mas o ascensorista sabia bem o que havia acontecido.

Passou dias pensando. Sabia que tinha feito a coisa certa. Caras como aquele tinham que morrer. Mas por mais que tentasse não conseguia se perdoar. Afinal de contas quem nunca deu uns amassos na horta do colégio.

Ai veio a febre. Bebeu. Vieram os desmaios. Bebeu. Veio a loucura.
Foi obrigado a parar e pensar.
Não encontrou ouro adjetivo para a sua vida. Grande merda!

Enquanto isso o elevador subia e descia andares. Tocando aquela música maldita.

Usabilidade

..sim uma por favor!

máquina: conecting, i-doser, have a bad trip with BlackSun baby!

... o vício é realmente algo estranho, pode ter certeza!
...que nada, me ligo mesmo em coisas sintéticas!

máquina: soma... 85% loading!

...é só um clique, é só um clique... é tudo que eu preciso.

máquina: take care with Resets. Keep your brain in 20hz!

..despluga, despluga!!! vai rolar um boot porra!