domingo, maio 01, 2011

Mate seu irmão

Mate seu irmão. Um grande sucesso. O que há de mais culposo num ato temerário de pura coragem, de agir com o coração. Sidney Lumet e trupe retratou bem isto. Não há piedade. Afeição é uma questão de perspectiva. Quem ganha ou quem perde nessa história?


Somos seres de sangue frio, calculistas. Lagartos precisando de calor para esquentar sua vida. Por isso repito, mate seu irmão. Sem piedade.

2h30 da noite. A cidade o engole em seus pensamentos. 187km/h e contando.... um maldito caminhão vem em sua direção. A luz ofusca, cega, ofusca.

Sete noites depois, não longe dali abre seus olhos. O peito pesa. A cabeça pesa. Tubos e a réplica perfeita de um monitor cinematográfico.

#fail

Ainda vivo, ainda pulsante. Ainda no afã pela morte de seu irmão... inexistente.

terça-feira, julho 20, 2010

Pequena trilogia do silêncio: ATO I - As primeiras noites

As primeiras noites de um homem na cidade podem ser marcadas por diversos infortúnios, sempre à deriva da sorte. Não foi diferente com Ronan. Após 35 anos de tentativas e fracassos superlativos, se via às voltas entre pocilgas e viadutos.

Ao acordar – ou perambular – pela madrugada ao som de sirenes, adivinhava de forma auspiciosa como mais uma das boas e caóticas almas largavam o plano da sub-existência urbana passando dessa para outra, após: dívidas de drogas, overdose, crimes passionais ou revanchismo.

Naquela noite, em específico, em meados da década de 90 (anyway!), nos contornos da rua da Bahia, dita por outros como a parte mais baixa e suja da cidade, após um pesadelo que envolvia transexuais, um trocadores de ônibus e figuras típicas do submundo, acordou repentinamente ao som de freios e a variação tonal reducionista de uma sirene policial.

Espalhando-se no papelão encharcado pela água, coberto pelo pano que lhe servia como manta, Ronan se levanta aos poucos. No auge da meia-idade (imaginava que viveria por mais alguns anos!), seu corpo era frágil e de pelos mal formados, como os de cachorro sarnento.

Ao longe percebia a movimentação. Como sempre, um pequeno aglomerado de pessoas se reunia no entorno de um pressuposto corpo, vítima óbvia de pequeno deslize. O silêncio próximo foi rompido pela voz de um policial. Até então, Ronan não havia o percebido. Um breve inquérito motivado a pontapés e tapas se sucedeu com outros três indivíduos (um deles ainda infante) que se mostraram pouco colaborativos, ou abertos, a fornecer pseudo subsídios policiais/investigativos. Como de praxe.

Alguns passos separavam a distância entre ele e a pequena multidão, e Ronan decidiu caminhar até a cena do crime. Nada demais para quem acostuma-se a estar face-a-face com a morte todas as noites. Caminhou vagarosamente, levantando suas calças já de elásticos desgastados. Ao aproximar-se por entre o grupo de curiosos, percebeu a figura de Doróti. A jovem, talvez em seus 20 e poucos, olhava para o chão de forma letárgica. Fato estranho, ela havia sumido há algumas noites, após breve e fugaz aproximação. Ainda mais surpreso, Ronan percebeu que à sua frente jazia Vito, ainda encharcado pelo sangue que lhe escorria do buraco de bala a poucos palmos abaixo do pescoço. Sua camisa encardida, amarela, tomava agora tonalidade degradê, passando do pardo inexpressivo ao vermelho vivo e denso. Ao redor, não haviam lágrimas, e talvez a surpresa que o tomava de assalto devia em parte à proximidade íntima criada entre o morto e a jovem que ali se encontravam. Ainda em estado de semi-sonolência, bastaram poucos segundos para que um recuo temporal viesse à sua mente, causando incomodo de caráter muito menos físico, do que moral. Segundo constava em sua memória, a coisa toda se deu há poucos dias, quando travou conhecimento do casal, que de forma repentina, como que pedindo por um socorro espiritual, lhe haviam pedido ajuda.

6 dias antes...

Quiberama. O nome soou lhe pareceu estranho. Não que seu repertório léxico fosse extensivo o suficiente para refletir sobre etimologia e aspectos formais de palavras, mas pareceu-lhe que, ter um bar com nome misto entre um prato árabe e famigerados jogos eletrônicos, era no mínimo atípico. Ali, há alguns metros da estação central de trem, sentava-se à frente da calçada apenas para acompanhar, entre as 18 e 20h, o movimento que considerava primal e automatizado. Um fluxo intenso de tipos (gordos, magros, negros, feios ou bonitos) adentravam em grandes e velozes máquinas vermelhas, após espera de uma hora como gados prestes a serem transportados. Os destinos eram diversos, mas sempre periféricos. Ravena, Sabará, Santa Luzia, Paraiso das Paiabas e afins. O cheio de óleo e fumaça, forte, sufocante e inevitável.

Já estava ali há poucos minutos quando uma jovem de aspecto vívido e desleixado se aproximou. Não foi preciso ter um senso tão apurado para perceber naquela figura uma habitante das ruas. Ow, estranho demais ver como todo mundo aqui vai para um lugar diferente, né? Ronan não sabia ao certo, mas aquela primeira frase havia lhe causado uma necessidade de reação quase imediata. Mas permaneceu calado. Não conhecia a jovem, e, além do mais, dar-se de forma tão aberta, ao primeiro momento, não era costume tão comum por aquelas bandas.

Permaneceram sentados ali durante alguns minutos. O silêncio, em geral, dominava a cena, entrecortada por frases desconexas e despropositais, até que uma pergunta – tida por ele como “arriscada”, de certa forma – rompeu o ar: Ce tá ficando onde? Ali debaixo do viaduto mesmo? Sem saber o que responder, ele apenas balançou a cabeça afirmativamente.

O que se sucedeu, ainda naquele dia, pode ser narrado de forma pragmática. Andaram por algumas ruas próximas, falaram sobre outros moradores daquela parte da cidade. Contaram a si próprios sobre um ou outro episódio de crime passional, até que horas depois chegavam a um dos bares na proximidade. Ronan conhecia o local de passagem. Bar Tulinho. Apesar do nome pressupostamente inofensivo, e de forma inexplicável, nunca sentia ali energia positiva. Em geral, o pulgueiro era destino de bêbados e trapaceiros.

Sem cerimônia alguma, Doróti (esse era o nome da jovem) adentrou naquele pequeno inferno. Mesmo vestida com trapos, suja e despreocupada com sua porção feminina, irradiava certa lascividade, responsável por atrair meia dúzia de olhares. Um senso de proteção passou-lhe pela cabeça, mas brevemente foi rompido ao ver que a jovem abraçara e cochichava algo aos ouvidos de outro homem, ao fundo do balcão em companhia apenas de uma grande garrafa de álcool. Não sabendo ao certo, ou talvez não assumindo para si, Ronan havia sufocado qualquer pulsão sexual nutrida por aquela jovial alma. Certamente, permanecer conversando com uma estranha, e evoluir suas percepção neste sentido, não seria sensato àqueles que valem-se da desconfiança como escudo protetor, noite após noite.

Poucos minutos depois, o casal saía em forma anônima, ele sucedido por ela. Ronan foi apresentado àquele homem de feições inexpressivas e porte significativamente mais alto. Seu nome, segundo dito por Dóroti, era Vito, e, em poucos quarteirões, sua história fora resumida como a de um ex-trocador que por vício em drogas, havia jogado fora o pouco que ainda lhe restava. Na impossibilidade de "recolocar-se profissionalmente" após dispensa advinda de desentendimentos na empresa, jogou-se de vez a perambular pelos entornos da Rua. Podia ainda, se assim desejasse, contar com ajuda de sua irmã mais nova e um pouco melhor de vida, mas decidiu – talvez por orgulho próprio – não envolvê-la em qualquer situação que lhe dizia respeito.

Sem saber o porque, Ronan permitiu então que as duas almas entrassem, gradativamente, em sua vida. Contou-lhes sobre sua trajetória: a morte dos parentes; a vinda para a cidade patrocinada por um falso patrono; o encontro com a miséria após tentativas mal sucedidas de arranjar um emprego; e poucas noites depois, perambulação a esmo por quarteirões próximos.

Mas se por um lado a proximidade lhe rompia o espaço íntimo, pessoal, por outro aguçava-lhe um ponto. Não sabia ao certo o porque, mas percebera que embora houvesse uma tensão sexual que envolvia Dóroti e Vito, ambos não se comportavam como casal, propriamente. Percebeu em diversos momentos respostas ásperas ou evasões físicas. Aquilo suscitava certa dubiedade, ao abrir pressupostos que poderiam levar Ronan a aproximar-se de Dóroti, ao passo que o matia cauteloso sob quem exercia o papel dominante. Seria ela a figura que se afastava, colocando-lhe uma barreira? Ou ele, em atitude semelhante à tomada com a irmã, decidia afastar a jovem de perigos inevitáveis?

E foi justamente uma dívida que pôs fim à dúvida nutrida, gerando-lhe certo incomodo. O fato se sucedeu 4 noites após o encontro inicial, quando por volta das 2h da madrugada, os três, e mais algumas almas que aglutinavam-se sob o viaduto foram acordados pelo barulho estridente, único e sinistro do bater de uma barra de ferro sob pilastras de aço maciço que se erguiam para sustentar-lhes o teto.

A figura de Moreno, traficante e explorador de moradores de rua, era conhecida por seus modos brutos e covardes de cobrança, suborno e modis operanti. Sua ficha de crimes continha toda a sorte de atos hediondos, encobertos por complexa teia de laranjas envolvidos em todo o fluxo, da recepção ao consumo final de crack. A propósito, todos ali sabiam que ao se materializar presencialmente, o preço cobrado ao devedor poderia ser pago de duas formas: em dobro, ou pela morte.

De ascendência afro, indígena ou algo entre o meio termo, impunha respeito por seu próprio físico. Não acontecera de forma diferente quando ao aproximar de Vito, agachou-se e disse: Ce sabe o que vim buscar... ta aí? Na impossibilidade óbvia de cobrir (monetariamente) a pujança (física) causada pelo vício do crack, a vítima apenas balançou a cabeça de forma negativa, para logo em seguida ser surrado, caindo à lona como num nocaute preciso de Muhammad Ali. O corpo inerte foi carregado para uma velha camionete escondida nas sombras, por homens que também ali se ofuscavam esperando o momento oportuno para conclusão do trabalho sujo.

Sem dizer uma única palavra, Moreno se afasta. Deixando para trás, e de forma subserviente, testemunhas calejadas pelo universo de perdas e cobranças, sufoco e suprassumo de violência.

Inevitavelmente Dóroti assumiu ares soturno, rompidos pelo convite de Ronan para se afastarem dali.

...e foi justamente neste momento em que foram surpreendidos por um ato de cumplicidade cruel, passional ou hediondo, de certa forma. Caminhavam há menos de 10 minutos, quando notaram, há quadras de distância, a camionete do algoz parada de frente a um “hotel” conhecido como Pulga. A origem verdadeira do substantivo era desconhecida, mas ambos percebiam que Hotel não seria a expressão mais razoável para nominá-lo.

Aproximaram-se cautelosos a tempo de perceberem que Moreno acabava de levar, ainda semi-inconsciente, Vito porta a dentro. Em estado de torpor, a vítima os olha, como que suplicante por ajuda, apenas a tempo de se render a escuridão e dor dos golpes que lhe marcavam todo o copro. Dóroti e Ronan se afastam, apreensivos. Em uma esquina próxima notam a coloração vermelha e azul, ofuscante e pouco nítida, de uma viatura policial que apressadamente transitava por ali. Como suspeitos, são parados por três policiais, e ao serem perguntados sobre terem visto um sujeiro de feições fortes, indígenas ou negras, se entreolham e rendem ao silêncio.

Poucas noites depois, quando se encontra com Dóroti na ocasião da morte de Vito, Ronan, não completamente absorto, mas de certa forma contemplativo, percebe novamente no olhar da jovem um tom de cumplicidade, que leva-o a perguntas óbvias e impassíveis de resposta.

1. Estaria Vito prevendo sua morte? 2. Qual o valor de uma palavra desferida no momento correto em contraposição ao silêncio subserviente? Uma vida? 3. Havia entre os dois uma pulsão sexual contida que resultaria em uma união fulgaz de dois corpos sujos mas dotados de desejo nas noites que se seguiriam?

segunda-feira, março 22, 2010

Segunda é sempre assim!

2:37 da madrugada e o suor que escorre pela testa é o prenúncio do tédio encarnado. Porra! segunda e as coisas já começam dessa forma. Mentalmente traço a trajetória que culmina num domingo de puro entretenimento barato com garotas seminuas num programa que se repete há pelo menos 20 anos, com banheiras e muita agitação.


3:49 e o despertador é uma silhueta de contornos mal definidos. A esta hora toda a roupa de cama que ganhei de minhas tias na ocasião do sacramento matrimônial se transformou num tripod prestes a me engolir por completo.

6:21 e o levante é meio traumático. Primeiro o pé direto, depois o esquerdo. Perco o caminho para o banheiro e acabo dando-me às traças na TV. Não há café, não há abraços. Um leão deve ser morto ao longo do dia.

7:05-8:30 e a cidade é a estagnação em pessoa: "olá, bom dia, tudo bem, como foi o fim de semana". À merda com a baboseira matutina.

E então vem aquele lance todo de faz, faz-se. Você abunda-se e pensa como é tranquilo estrear seu novo micro aparelho reprodutor de barulhos franceses.

Olhar para o relógio virtual é se auto enganar. Desculpe-me a grosseria, mas deixo o devir para a próxima segunda.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

LA

Vice Beach. Califórnia. Lavar pratos para Big Joe pode ser perigoso. Um brasuca, no cú de Los Angeles esperando a noite chegar para foder com algumas ticas. Joe deve ter quase uma tonelada e anda para lá e para cá com aquela porra de faca parecida com um machado de guerra. Ruivo, de barba generosa adora sacanear imigrantes.

Trabalho com Ruan e Pablo, Um mexicano e portoriquenho de um figa. Às vezes Joe se aproxima latindo em espanhol, e isso me dá nos nervos.

23h54. Do lado da pocilga em que vivo, duas pequenas colombianas recebem visitas. Num dia, garotos da UCLA, no outro, negros de uma gang local. Desconfio que rola algo. Drogas, munição, vai saber. Dia desses, uma delas, Manuelita, bateu à minha porta. Queria açucar. Vai saber para que.

Vivo nessa há cerca de 15 anos. Todo verão tento voltar ao Brasil. No way. Sem grana, sem moral e sem uma gringa pra contar vantagem lá no interior de Goiás. As vezes até me pergunto se faço as escolhas certas, mas sem dúvida, chego a conclusão de que não há escolhas.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Nostalgia

Nostalgia é...


...cheiro e umidade da grama após ser o primeiro a escorregar em direção à bola, o tombo na beirada da piscina, o andar pela cidade numa tarde de domingo observando estranhas e solitárias figuras, o prego que entra na perna de um amigo após um erro de cálculo na construção da patinete, a linha e odor de cerol eventualmente levando a um corte profundo na dobra dos dedos, o passeio de bicicleta no longínquo sanatório, beijo as escondidas na escadinha do Jardim, o pano quadriculado na merendeira com o suco de maracujá, o primeiro livro de RPG, o atari para jogar com o pai nas manhãs de sobriedade, briga colegial, kung fu em São Paulo, viagens para o interior, o medo de descobrir quem eu era pela primeira vez quando chorei a ausência de homogeneidade entre aqueles que me circulavam.

sábado, dezembro 05, 2009

Ausente

Sábado, 19h18. Dia chuvoso. Conversa por P2P:


1. comentando seu post no twitter, sobre o perfume na casa toda... massa demais, tem uma aromatizadores legais, que deixam tudo cheiroso... você pode escolher um tipo de cheiro, e sentido que quer dar... tipo, calma, alegria etc...

2. putz! tava na linha verde, veio um caminhão e saiu raspando meu carro de lado... quase que o filho da mãe enfia o caminhão pela minha janela... foda... fiquei putasso... sério, HOJE NÃO É O MEU DIA DE SORTE

3. lembrei de um lance hoje... vc conhece a mell neh? de uma olhada com ela... ela é redatora da Bhtec, e lá sempre precisa de gente... tem o Guiabh lá também, derepente rola algo

4. acho que vou ter de ir ao médico. To com uma dor insuportável no ombro, pescoço e braço... dependendo do jeito que fico, piora... não vai rolar, tá difícil...

5. já comeu fondue de verdade, daqueles que você joga carne crua no óleo? Lá na Savassi tem um lugar que rola... acho que vou lá hoje, com esse frio!

terça-feira, novembro 24, 2009

O velho trata sobre lascividade

São 23h17. No apartamento, muita fumaça e confusão.

Deixe-me explicar. Sente-se. Lá se vai mais de meio século de vida, e somente agora posso dizer que entendo algo sobre o assunto.

Bem, começemos pelo mais óbvio: eros e tanatos fazem parte do voyerismo.

Imagine um momento em que a lascívia não se faz mais presente. Eis ai o nascimento dessa necessidade pungente de observação. É como se o sentimento morresse para que o prazer puro tomasse seu lugar.

Em segundo lugar: O gênero é uma questão social. Sim, imagine ai com seus miolos o que quiser. Não acredito nessa balela de homens e mulheres.

Ei, coloca mais dessa bebida aqui...

Terceiro: Cores. Tudo está ligado a cores. O vermelho por exemplo, tende a ser tão revelador e óbvio. Se você REALMENTE deseja algo, use preto... além do mais, gera certa... "introspecção".

A segunda se aproxima e sorri sarcasticamente, sentando ao seu lado.

Quarto: Sobre a bebida. Sendo curto e breve (*olhando para a zona fálica)...

Sua camisa é meio cafona, fora de moda e de cetim

quinta-feira, novembro 19, 2009

2

Na esquina entre o deletério e a lascividade, foram se entrelaçando. Ela, falando de palavras e energias. Ele, pragmático em ressaltar o aspecto carnal.

Neste mundo possível, tudo se converte. AND SO...

Recorrendo ao afago discreto e valioso, segue o corpo, com sua própria crença. Ela, agarrada no fator espiritual da situação. Ele, à pungência orgânica.

terça-feira, novembro 17, 2009

Pardos

Foi um ataque fulminate.

Vale-se dizer que a coisa toda tem um fundamento quase animalesco. Na escala mais baixa do reino animal, valendo-se de analogias, desceram a grunidos e uma agressividade quase instintiva.

Sonhando como Bella Lugosi, ele se aproximava em sua forma lupina. A fêmea, em toda sua pungência de odores e tato exibe-se como devoradora, devassa.

...são 3h da madrugada e a cidade, quente e húmida, está inteiramente aberta a gatos de aspecto desgrenhado e mal tratados. Um lugar comum, não-lugar, onde os pardos se encontram e valem-se de sua desconfiança para eventuais e aleatórios acasalamentos.

Fauna, filo, filos... a afinidade entre espécimes, de reinos distintos, pode gerar certo estranhamento biológico, mas em sua lógica perpetua novas possibilidades. O que seria o Homem além de uma mistura mal sucedidade entre macacos e a libido?

...são 3h da madrugada, e ela, um híbrido de felina e passáro exuberante rasteja pelas sarjetas da cidade. Devoradora, devassa e senhora de si.


quinta-feira, julho 30, 2009

Busca-morte

O que ele deseja é apenas um pouco de morte.


Fria, silencia vozes, termina o inacabado.

Finish encabeça seu vocabulário. Tendências suicidas devem ser tratadas com bons psicólogos.

Prefira produtos orgânicos para condicionar o organismo.

Mas então deu-se ao vento na camada mais baixa da cidade. Dormiu por sete dias no asfalto nu a buscando. A procura foi intensa e introspectiva.

...sem sorte

Preferiu deixar a morte para um outro dia, só para aumentar a dor.